NO BRASIL FICOU O MELHOR DOS BRINQUEDOS.

-Papai, me leva pra Disneylândia?
- O que garoto? Ficou maluco?
Ao chegar em casa ainda cheirando ao suor de todos os outros corpos que vieram se esfregando no dele, dentro do mesmo trem que diariamente viajava e sempre empanturrado de gente dependurado nas portas,sufocando e amassadndo uns aos outros de todos os jeitos ,aquele pedreiro, trabalhador e incansável havia escutado o mais um inusitado pedido do filho que, ele poderia supor, na sua simplicidade e pobreza.
-Disneylândia, meu filho? Papai é um pedreiro, não tem dinheiro pra nada.Saio de casa quatro horas da manhã e volto agora, às nove horas da noite.Ganho muito pouco, filhinho. O que ganho é insuficiente até para comer e comprar umas roupinhas para você e sua mãe.
-Pôxa,então deixa de comprar comida pra mim.Compra só pra mamãe.
-Filho aí você morre.
-Eu vou morrer é se não for a Disneylândia.Retruca o menino chorando.
-Deixa de bobagem. Um dia, papai vai pensar nisso.
Também, com lágrimas nos olhos, o pai pedreiro, mãos cheias de calo, abraçou sua mulher e ambos ficaram agarrados, soluçando, babando-se, melando-se.
Ela vez por outra assoava o nariz na camisa dele.Uma cena patética.Pateta, não.Era patética mesmo!
O menino já tinha ido para cama dormir e o pai, durante a viagem de trem, a cada solavanco pensava em antes de dormir, dar uma aliviada com a patroa.Fazer uma coisa diferente do que assentar tijolo.Mas aquele diálogo com o filho tirou-lhe inteiramente, a vontade de fazer sexo.Sentia-se impotente e com aquele gosto de derrota na boca.
-O que você quer comer-pergunta-lhe melosa e chorosa a patroa.
-Queria era tomar chumbinho, para morrer e secar como fazem os ratos. Não agüento mais ser pobre.Coitadinho do menino.Pedir para ir a Disneylândia!
-Pronto, esquece! É coisa de criança.Ele vê toda hora na televisão. É isso.Esquece.
A patroa do pedreiro era uma baiana. Mulher nova, coxas perfeitas, ancas largas que suportariam abrigar naquele generoso ventre, quadrigêmeos sem maiores esforços!
Rosto emoldurado por sobrancelhas virgens que nunca tinham levado pinça, por isso eram grossas e sensuais, lábios carnudos e umas nádegas monumentais. Verdadeira preferência nacional. Era muito conhecida na rua e sempre lembrada pelos meninos que nela se inspiravam nesta fase de exercício diário de sexo solitário.A idade das espinhas. Já os machões e ricardões da área, a viam como uma medalha de ouro olímpico a ser conquistada, um dia.Verdadeiro manjar dos deuses.
O vatapá que todo mundo gostaria cair de boca.O acarajé mais delicioso da Bahia.
Muito séria, a patroa do pedreiro sequer olhava para os lados. No dia seguinte a patroa, ainda com aquele pedido do filho engasgado na garganta, e descendo o barranco em que morava ao passar pelo bicheiro que fazia ponto na descida da ladeira, não se conteve e desabafou:
-Veja, “seu” Mãozinha, meu filho, coitadinho, ontem pediu para ir a Disneylândia.Fiquei com muita peninha dele...
-Se eu tivesse dinheiro eu pagava – interrompeu o bicheiro e olhando descaradamente, para os seios fartos, generosos e empinados da baiana. Ainda de quebra tirou um vôo rasante pelo resto do corpo dela.Uma saúde privilegiada!
-Eu tenho certeza disto, “seu” Mãozinha.O senhor é uma pessoa muito boa e querida no bairro.
Motivado por tão sinceros elogios, Mãozinha disse pra ela que iria falar com o Dedão, o banqueiro da área.Quem sabe, ele não se sensibilizaria pela vontade do garoto.Então um brilho imenso acendeu naqueles olhos cor de jabuticaba, da baiana:
-Fala com ele. Fala?- nervosamente, insistia segurando no braço do bicheiro.
-Falo. Amanhã te dou a resposta - tranqüilizou-a.
No dia seguinte quando o incansável marido chegou em casa o filho já estava dormindo.O garoto andava amargurado e muito triste.
Ele jantou uma sopa de entulho e se empanturrou de pão. Finalmente, mais tarde, deu aquela martelada na patroa, que ontem só tinha ficado na intenção.
A baiana ficou na dela.Não falou nada sobre a conversa com o bicheiro. De manhã bem cedo e nervosa, foi até ao caixote sobre o qual a Mãozinha escrevia o jogo do bicho.Ao vê-la, foi logo gritando:
-Vem cá. O Dedão quer ver você!
-Jura?
-E eu sou homem de jurar?Quer ver.Passa lá à tarde.É conversa rápida.Ele é muito ocupado
À tarde, a baiana foi estar com o Dedão.Tudo resolvido. Agora era só tinha que esperar o pedreiro chegar.Na hora de costume, ele chegou. Ela correndo para os seus braços disse;:
-Consegui a viagem para o nosso filho.E advinha para quem mais?
-Ficou maluca, mulher? Quem?
-Você meu querido!Falei com o Dedão, ele disse que sempre quis fazer alguma coisa por você. Ele acha você um homem muito trabalhador, honesto e decente, e ainda disse brincando que aquela laje que você colocou na casa dele ainda não caiu.E começou a rir.Disse que faz questão que você viaje com o nosso filho.
-E você?
-Deixa pra lá.Eu não poderia abusar tanto do senhor Dedão assim.Vai você e nosso filho.Eu fico.Nem pensa em deixar escapar esta oportunidade.
No que o pedreiro ia retrucar alguma coisa, o filho saiu pulando do quarto e começou a beijar os pais.Afinal, iria conhecer a Disneylândia.Uma semana de encantamento e fantasia. O pai ficou paralisado de tanta emoção e dois dias depois embarcaram para a tão sonhada e deslumbrante viagem.
Naquela mesma noite, bateram à porta da baiana:
-Quem é?-silêncio absoluto lá fora
Ao abrir a porta, que surpresa, o Dedão lá estava para saber das últimas.
-Entre “seu” Dedão.Fique a vontade.
Dedão não titubeou! Cumprindo fielmente, a ordem da baiana entrou e foi logo tirando a roupa.

3 comentários:

Pety disse...

Olá, você deixou um comentário no meu blog (Aprendendo Suomi) perguntando sobre cenários futuros. Em que sentido? Até porque não creio que a gente tenha pensado nisso (eu, pelo menos, não). Até mais!

Beth disse...

Querido !!!

Ao descreveres fisicamente, o corpo da "patroa" pensei logo Jorge Amado, João Ubaldo Ribeiro, José de Alencar. O final do texto é tipico de Nelson Rodrigues. :)
Enfim, será que tudo é possivel para agradar uma criança? Onde está os valores morais de uma familia que faz de tudo para agradar uma criança, em tese, mimada? Ao final, tudo tem um preço. Não é mesmo? E quando essa criança não tiver mais a mãe como moeda de troca? Será um adolescente, adulto praticante de atos ilicitos? Que sociedade é essa que põe valores materiais como peso em tudo?

beijos

Carlos Henrique disse...

Se a descrição da baiana for exatamente o que eu imaginei... vou aguardar ansiosamente o próximo desejo de viajem desse garoto.