TENTE MUDAR DE PALHAÇO.








Um amor sem dor é água salobra, aquelas que saem de poços de água de rochas salinas.

É água, porém intragável, ácida, salgada, imprestável, igualzinho a este amor insosso, enjoativo, sem tempero, nem desmaios, ranger de dentes, chiliques e fricotes chorosos.

Não se iludam, quem quiser amar e ser eternamente feliz, saia deste negócio nascido do coração e vá plantar pepinos, cuidar de alfaces, criar passarinhos, ou dar milhos para as galinhas.

Sim, não sofrerá nunca mais do mal de amor.

Este amor sem dor e igual àquele que estando distante, ignora, e perto se acostuma com aquela inútil paisagem que, nem lhe olha mais.


Destes que se você estiver nua está apenas sem roupa ou se vestida, e porque não está nua.

Perde a sensibilidade de ver os detalhes, não tem mais o ânimo do elogio. Nem das brigas.

Não ofende, nem elogia, não ri e não chora, são dois vodus cambaleando pela casa.

Perdeu a motivação para se rasgar em dores pelas coisas mais tolas do cotidiano, e que só tem importância e significado, para quem ama.

Existe uma palavra que classifica esta tragédia: Indiferença.

A indiferença não traz dor, não traz nada, não escuta ou sente o cheiro ou a maciez da pele esfregando-lhe no corpo.

É de uma crueldade inominável e muito pior do que “a solidão provocada pela presença de um paulista”, como diria em tom de brincadeira sarcástica, o provocador, eterno escritor do absurdo e escarnecedor das mazelas sociais que só Nelson Rodrigues, conseguia dar forma e conteúdo!

Procure um novo amor, quem não consegue mais amar sentindo todas as dores que ele merece, de ficar brigando por meras bobagens, ter insônia, palpitações e depressão, ou vai ficar esperando para ser julgado na última ceia?

Quem estiver nesta situação, vá o circo.

Ver palhaços e leões na jaula não causa dor nenhuma e... muito menos tesão !

Só tome muito cuidado, pois o palhaço o que é? Diz o ditado popular:

- “É ladrão de mulher”.

E como os palhaços e as palhaças da rua são sempre mais engraçados, quem sabe...

Respeitável público: Quer que eu minta?