UM HOMEM JUSTIÇADO POR UMA QUESTÃO DE MINUTOS.

Diomedes Leôncio vivia com sua companheira Maria letícia há exatamente, trinta e seis crises de TPM da sua encantadora mulher e que no calendário dos outros mortais seriam três anos.

Maria Letícia ,até que pelo conjunto da obra dava para ir levando pois, exibia um corpaço moreno muito bem formatado,bocão carnudo, mulher inteligente , um excelente salário numa multinacional, cultura razoável e um belo apartamento de frente para a praia de Copacabana no qual, Diomedes Leôncio vivia como um agregado,e por estas razões sutis, era o sonho de consumo de qualquer homem.

Ele preferia este termo de agregado, mais ela por diversas vezes o chamou de vagabundo!

Num belo dia de verão ele, o agregado vagabundo, saía da praia com seu short preto e óculos Ray-ban, ao lado de uma vizinha de alguns andares abaixo ou acima do apartamento que ocupava e por uma destas infelizes coincidências Maria Letícia estava na janela e o viu.

Só depois de quarenta minutos cronometrados, ele meteu a chave naquela porta que não lhe pertencia.

Maria Letícia sem deixar barato, foi logo perguntando e fazendo-se de idiota:

-Que horas você saiu da praia?- com cara de quem queria realmente explicações e estava com um relógio na cabeça.
- Saí há cinco, dez minutos atrás e vou tomar um banhozinho. Vamos amor?- tentando desanuviar o temporal afetivo que já pressentia pairar sobre sua cabeça.
-Deo – era o apelido que ela o tratava - há quarenta minutos atrás eu vi da janela você entrar no prédio, com uma galinha de chapelão e óculos escuro e tão camuflada que não pude nem ver os cornos dela.
-Eu? Você pirou – tentou rebater aquela bola que ele já sentia muito perigosa e dentro da sua área.
-Sim cachorro nojento, pústula desgraçado!
-Maria Letícia, faça estas contas direitinho .Acho até que foram quarenta minutos sim, pois, fiquei conversando com o porteiro uma meia hora, querendo subir e ele com aquele papo de futebol.Depois entrei no elevador que estava lotado e a Carmem Lúcia com aquele barrigão de grávida quis entrar também e aí dei meu lugar pra ela já que o elevador estava muito cheio.Depois o elevador não descia de jeito nenhum.
-Sei... o porteiro. Que porteiro Deo?
- O Raimundão...
-Ah, sim ... Foi com ele que você ficou conversando trinta minutos seu filho de uma... -Maria Letícia deixa minha mãezinha fora disso - esbravejou Deo.
-Está bem . Posso chamá-lo então de mentiroso safado que acredita nas suas próprias mentiras, seu pré-corno?
-Pré-corno? – inquiriu Deo com cara de quem não pretendia deixar de ser “pré”.
-Não muda de assunto seu moleque, porque o Raimundão está de férias e não colocaram ainda, outro no lugar dele e a Carmem Lúcia está no hospital desde ontem à noite pra ter filho.
-Como assim?
- Deo, eu vou te dar com a jarra na cabeça – indo em direção a um quase monumento de porcelana japonês enorme e sem dúvida, pesadíssimo. - Essa jarra não, Maria Letícia, você me mata . Que ciúmes mais destemperado!
-Destemperado, né corninho...
-Ué,agora já sou corno?
- Deo, aff.... não me cansa, quem era a mulher disfarçada com aquela saída de praia que mais parecia uma...
-Ta bem, Maria Letícia, é uma nova moradora do apartamento quinhentos e quatro uma senhora até muito distinta e educadíssima que perguntou antes de entramos no elevador se eu conhecia algum eletricista bom , porque o marido dela que estava em casa -e você aí botando maldade em tudo - não conseguia colocar um disjuntor para o chuveiro elétrico.Aí me ofereci e ela me apresentou ao marido dela e troquei o disjuntor,e o marido me agradeceu muito e vim embora.
-O disjuntor? E trocou o óleo também?
-Como assim Maria Letícia, “trocou o óleo”!
-É exatamente o que escutou, foi com a senhora “educadíssima” do quinhentos e quatro, cujo apartamento está vazio, seu canalha sem-vergonha e tem até anuncio aqui neste jornal para alugá-lo, vou te mostrar seu filho de uma ..

-Maria Letícia!- Gritou Diomedes Leôncio interrompendo e demonstrando firmeza e que definitivamente, não queria envolver sua mãe naquilo.

-Olha o anúncio aqui, tá vendo?Agora me diga quem era aquela periguete, mentiroso...

- Meu Deus estou muito confuso...Não sei de nada, sou inocente. Maria Letícia, está bem eu perdi, mas foi um sexo descompromissado, irresponsável, fortuito, animal, coisa de homem,volúpia de momento descaradamente selvagem,um impensado orgasmo desnecessário e na escada do edifício,sem nenhum sentimento, nem afeto porque este eu guardo somente pra você, meu amor.E como eu me arrependo!

Fez-se um silêncio sepulcral em meio aquela encenação ridícula, grotesca e tragicômica.

Então, Diomedes Leôncio fechando os olhos, contraindo o rosto, antevendo o fortíssimo impacto, disse com voz de menor abandonado e fazendo uma falsa boquinha de choro:

-Tá bom, meu amor pode me dá com o jarrão na cabeça, mas por favor Maria Letícia, me presta socorro depois.