RÉQUIEM DE NATAL PARA TODOS OS AUSENTES.





É Natal. Meia noite!Toca a campainha. A ceia está à mesa. 
Crianças para variar batem com a cabeça em todos os lugares da casa. Quando a gente é criança vive arranhando o corpo, depois que cresce as feridas são na alma. Todos os avós estão vivos, de todos os lados. Para a criançada isto significa uma loja inteira de brinquedos, transportada para dentro das suas casas. Afinal, avós são aqueles que já erraram uma vez e continuam agora, deseducando os filhos dos seus filhos. Suas missões é querer curtir as brincadeiras com os netos. As coisas sérias ficam para os pais, agora tão chatos como eles também, já foram! A dona da casa vai abrir a porta. Todos gritam.A criançada explode de alegria: É Papai Noel! Aquela barba, aquela roupa vermelha, aquele saco. E a criançada vai ao delírio.
-Entra Papai Noel, a casa é sua! - convidam todos.

-HO,ho,ho,ho, com vão ? Pergunta Papai Noel - com a criançada querendo arrancar-lhe o saco!

-Papai Noel, cadê meu presente - pergunta o menininho ansioso?

-E o meu Papai Noel? - dispara a outra menininha.

-Eu quero um vídeo-game - pede o garoto viciadão nesta praga!

-Ho ho ho ho, calma todo mundo - Tranquiliza Papai Noel.

A ansiedade é geral. 

Papai Noel coloca o saco no chão. 

Para espanto de todos, de dentro dele, saem duas crianças. 

Uma verdadeira escadinha de idades: 2 e 3 anos.

Não tem nenhum loirinho, nem branquinho.Papai Noel tira a 

roupa devagar.Por último a barba.

- Ariovaldo? Reconhece a dona da casa.

Ariovaldo era o esposo da ex-empregada daquela família 

que ali trabalhou durante 16 anos, falecida há dois meses 

atrás, vitima de anemia profunda e complicações cardíacas.

A família consternada abraça-o. E também aos filhos. A 

criançada não entende nada e continua a brincadeira. 

Ariovaldo” então explica:

-Antes de morrer ela estava revoltada, porque dizia que a sra. fazia a melhor rabanada do mundo, e ela tinha certeza que este ano não iria comê-las. Então pediu para trazer as crianças para comerem por ela, e lá em cima ela ficaria menos revoltada. Aí fechou os olhos e morreu. Morreu minha querida esposa!

Ao terminar a explicação todos os adultos da festa emocionados começaram a cantar a música: Natal, Natal das crianças...

Aos filhos do Ariovaldo foram oferecidas muitas rabanadas. E sorriram. Então, aí sim, até as outras crianças entenderam!

Houve uma que olhou para o céu, e... Chorou!